quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Você tem fome de quê?

Imagem: tarsila do Amaral, Operários - 1933


Novas fases surgem, ultrapassando e dilascerando antigas visões e pensamentos.
Assumo a responsabilidade de ser condutora de um (ou vários) olhar(es).
É complexa essa relação proletário- educador-profesor. Sou mais uma trabalhadora do saber, dotada da responsabilidade de ensinar e aprender.
Quantas vidas eu influencio?
Qual o cuidado que tenho e que deveria ter?
Uma profusão de dúvidas e posturas que aprendo a lidar, pisando em ovos com malabares.
Meu ser poético frágil sai do campo do aluno e adentra o universo não menos delicado do professor.
Constantemente sindo como "mais uma" e frustrada enfrento o dia-a dia com uma pérola aluno que faz com que tudo tenha sentido.
Muito medo, mas com recompensas, afagos morais.
Desafio etapa ultrapassada, meu primeiro mês.

sábado, 12 de junho de 2010

xiiiiiiiiiiiiiiiuuuuuuuuu!!!!


Foto: Henri Cartier Bresson

Ei, cala-te!
Não percebe que ela esta concentrada, envolvida consigo, reclusa ao seu mundo particular. Tão bela caminha como o lenço desliza ao vento frio dessa metrópole.
É pequena, está frágil, é fácil perceber isso.
Ei, já pedi silêncio!
Somos expectadores, contemplamos seu espetáculo particular, o cuidado com cada pequeno gesto que rabisca pela vida a fora.
Vem, me ajuda, vou tentar chegar mais perto, quem sabe assim escuto seus devaneios ocultos e abro um buraco para transformar a cena, monólogos podem ser entediantes, ela merece que ousemos uma entrada triunfal.
Não querido, não esta ficando louco, eu também escuto... esse é o som que as lágrimas deveriam produzir se fosse permitido que escorressem para fora, mas ela é egoista demais para isso, prefere que jorrem rios internos de lágrimas e sangue.
Entendo o quão visceral é contemplar esse processo, mas metamorfoses são necessárias e doloridas, essa tem uma beleza peculiar, afinal percebemos a importância do processo, de como começa a ter propriocepção. Essa pequena conquistará o maior prêmio quanto o ato de sair da caverna saia do campo onírico.
Como sei tanto?
Confesso que são apenas apontamentos de uma menina que se esconde no superego dela, que treme e grita a cada nova cicatriz causada pelas escolhas e caminhos que enfrenta.

Bom, agora preciso cuidar da minha pequena, volte quando quiser, mas venha quietinho, deixe que o silêncio o envolva na beleza do que ainda não se inventou significado linguístico.

terça-feira, 13 de abril de 2010

o que é felicidade? momentos...



O que é felicidade?
Os fragmentos de momentos que causam uma euforia tão grande que pode chegar a definição de felicidade são dispersos, aleatórios e normalmente com coisas pequenas.
sorrisos, amigos, amores, filmes, peças de teatro, livros, conversas idiotas com pessoas preciosas, cada momento que vale a pena relembrar compõe a colcha de retalhos do que é felicidade para mim.


Tenho tido espasmos de felicidade e trizteza, ambos intensos.
O prazer de ouvir o som do vento uivas fora de casa e sentir-se acolhida por olhos sinceros.
Ser transportada para outro tempo e espaço, onde não existe nada a não ser o momento inerte e fragmentado. Cada nota da música ao fundo é sentida como o toque suave da brisa, os violinos, a sanfona, a flauta doce depois a transversal, o violão baixinho acompanha e trilha o caminho por onde seguem em fantástica harmonia a trilha sonora da cena.
É como um filme europeu, com um cuidado especial com a arte do olhar, sentir, viver.
As cores são pastéis, intensas, harmônicas e preenchem o espaço, embebedando de vida as figuras enlaçadas.
O furor do riso descontrolado, histérico, proibido que abafa a libertinagem interrompida pela infantil visão do momento.
Num instante tudo desaba, desmorona em risos loucos.
E no acalanto da embriaguês dormem unidos pelas liberdade, separados pela so
lidão do medo.

terça-feira, 9 de março de 2010

Sabe o que quero?

Foto: Henri Cartier Bresson

Quero fechar os olhos e não te ver,
não encontrar impregnado no meu corpo os acordes do teu perfume
o teu toque, calor...
Desenhar passo a passo cada movimento teu
para reviver cada detalhe, registrar o invisível que ainda é meu
o que foi pactuado inconsciente na primeira troca de olhar
quero esquecer das marcas que a vida nos causou
da tentativa de proteger sua fragilidade, escondendo a minha
quero de volta minha precária poesia, meus dias sereletes ao teu lado
ficou tanto não dito
tanto no espaço
no tempo
agora muito mais no esquecimento
o sono é leve ou muito pesado, fica esse vazio ao meu lado
desaprendi a sentir
meu sentidos enxarcados
entopem cada poro com as lágrimas
que meu orgulho impede que vase

Tudo desconexo, solto, perdido
Quero pelo menos por um momento esquecer
não lembrar
abandonar
abrir mão
sumir

Sabe o que quero?
Quero olhar no espelho e não ver um rosto degradado pela tua ausência.

domingo, 7 de março de 2010

Saudade


Foto: Magritte

De quem é esta saudade
que meus silêncios invade,
que de tão longe me vem?

De quem é esta saudade,
de quem?

Aquelas mãos só carícias,
Aqueles olhos de apelo,
aqueles lábios-desejo...

E estes dedos engelhados,
e este olhar de vã procura,
e esta boca sem um beijo...

De quem é esta saudade
que sinto quando me vejo?

Gilka Machado

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Ela

Embriagada de poesia ela se prende novamente.
O emaranhado de retratos que passam por seus olhos a deixam zonza, mas resolve levantar.
Como é prazeroso ser só, completa consigo.
Pensamento sensato, considerando o local e parceiro que a ultima noite lhe trouxera.
Tem dias que sente como se houvessem arrancado tudo, e era só, um corpo inerte na vida.
Mas acorda e vê que é noite, a solidão fria a abraça e aconchega mais um novo movimento de vida.
Acende seu cigarro e sai.
Sua aparência exótica chama atenção, diziam que sua presença é como um beijo roubado.
No seu caminho perambulavam as figuras que descartara, seu péssimo hábito de viver do passado sustentava sua libibinosa vida evasiva.
Mais uma noite, mais um poema queimado pelo rancor das horas.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O que falta?



Falto eu ou você, o que é falta?

Ausência é falta ou um estar em si?

Sentir-se livre é bom, mas ruim.

Não sei por onde vaga minha racionalidade, é uma profusão de sentimentos e decisões, perplexa sigo sem querer.

São olhares risos e abraços, é tanta sedução e paixão.

Onde fica o amor quando a carne queima?

Aprender a ser, mesmo sem estar.

Onde estou, onde esse conflito me levará?

Momento catártico da vida, não quero um deus ex machina para me salvar, não sou a heroína da tragédia chamada vida.

A fruta tem seu ciclo para tornar-se madura, perfeita para o consumo.

O humano passa a vida amadurecendo e se consumindo, explorando o outro para arrancar de suas vísceras um pouco de dignidade.

Aprendi a dar valor ao outro e esqueci de valorizar o dentro, a conexão interna que liga a necessidade e o querer.

Esse movimento que rompe minhas certezas lançando-as no vácuo de ilusões e perspectivas profusas de presente, passado e futuro é dilacerante.

Não sei sinceramente sobre a falta, ausência ou medo, apenas aceito que existem fisicamente no meu corpo.