sábado, 13 de maio de 2023

Ciclos



Registro: Fabíola Junqueira

Este ano completam 5 anos que um ciclo fechou na minha vida, este mês minha filha de quatro patas partiu para ser feliz no astral dos pets, cheio de bolinhas em um campo lindo em que ela possa correr e ser feliz. A gente intenciona e acredita no que precisa para viver e se acolher.

Há 4 anos eu ganhei de presente uma orquídea linda de M.I, pessoa que tive a felicidade de atender com Arteterapia por mais de um ano, ela tinha uma ligação forte com a Argentina. Completei dois meses em Buenos Aires, era para ser Salta, mas a gente acha que manda e por fim escolhi agora ficar aqui.

Mês passado, completou um ano que conheci a última pessoa que me apaixonei, nos tornamos amigos e ainda trocamos memes, reflexões políticas e crises sobre o sentir. Tenho uma anedota dessa conexão: ele vive em uma cidade que não é a mais conhecida de MG, eu sabia dela das histórias contadas pela minha avó, que ano passado completou 90 anos. Uma mulher de pura força, luta e amor, só assim para parir 10 filhos, criar os que sobreviveram a jornada da vida  praticamente sozinha, superar dois casamentos difíceis e sair de um Estado para outro, pois era grande demais para uma província. Dona Luisa merece um livro inteiro, não só uma anedota. Das narrativas que eu escutei ao longo da vida para o interior da Bahia, uma cidade que era hipotética se tornou real depois de um forró, algumas cervejas e muita conversa. A vida é

Ainda desta mesma época, do mesmo Vale do Capão, da mesma Chapada Diamantina, deste mesmo ciclo de um ano, recentemente me reconecto com duas amigas queridas que estão exatamente no mesmo lugar que me transformou tanto, acaso (?) Antes de seguir viagem, no meio da trilha, olhando para o vale, eu prometi voltar para enfim fazer o roteiro de 5 dias no Vale do Pati. O grupo “viagem ao Pati”, só cresce, acho que será uma excursão (rs).

Nesse ciclo intenso do último ano, passei por tantos lugares, mudei de emprego algumas vezes. Me tornei leitora crítica e autora de livros didáticos, produtora e tenho pensado em tirar da gaveta da mente e coração os projetos de artista. Decidi ficar na Argentina, colocar a minha energia para estudar e construir um outro caminho. Mas a gente acha que manda em algo e a vida vem com tudo...veremos os próximos capítulos com a alegria de quem descobre algo pela primeira vez, por vezes com estranhamento, outra com encantamento.

Falando de planejar, eu tinha me planejado nesta manhã ir há uma jornada de arte e memória, mas usei a desculpa do trabalho para ficar, na verdade eu preciso de tempo e espaço. A querida Leila me invitou a desfrutar de sua casa enquanto salia a recorrer el pais con Tango.

Voltando as fotos, gatilho para esta escrita, minha orquídea criou raízes!

Minhas raízes foram parar no amuleto que trouxe da Bolívia para abençoar os caminhos amorosos da Fáfá. Minhas raízes em São Paulo se alargando para além, pois são cuidadas com afeto, mesmo de longe. Mas o que é a distância? É lindo observar que quando me permito ser cuidada, cresço.

Dar-se conta na escrita que essa vida aquarelada se expande, e dilata com a água da afetividade e que tem seu próprio tempo, como a natureza, que as vezes parece morrer quando passa por um inverno vigoroso, mas depois renasce e floresce na beleza da primavera. A sabedoria dos nossos ancestrais que não carregavam diplomas nas paredes, mas até hoje ensinam sobre o não dito como os bons mestres e mestras que são.

Que as minhas, as nossas raízes expandam para nos levar para onde queremos e necessitamos ir, dentro dessa sabedoria outra, ancestral. Que Pachamama nos nutra e que os pretos velhos nos acolham.

O amor é alimento, nutre e expande como as raízes que sempre arrumam um modo de ir de encontro ao que precisam, e se necessário rompem o asfalto, olhar para o céu e para o chão, apesar do humano, do capital, a poesia da natureza com seu, ciclos, vive.

O amor multiplica, e o que eu quero nessa vida é abundância!

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Prazer


Uma viagem de sensações, o cheiro que aveludadamente preenche as narinas e transbordam de excitação as palatinas, penetram no corpo arrebatando o racional para ser somente inteiro instinto.
o corpo esquenta e novamente vivo recebe uma explosão de prazer, com intensa vontade de permanecer nesse estado, repito o gesto incansavelmente. 
Mesmo satisfeita quero mais, quero o estupor, ir além do limite, a dor manifesta na satisfação total do ser. 
Somente o latejar me faz parar.
Ao retomar o estado de ser pensante novamente, o prazer dar lugar ao julgamento, a consciência, lamentar o ocorrido e penalizar com a dor além do gozo, a falta de ar e o intenso incômodo.
Penso que deveria ter interrompido, já tinha percorrido esse caminho outrora e sei das consequências que lamentavelmente irei arcar.
Sinceramente não acredito necessitar de um grupo de apoio, não é auto flagelação, é apenas um deslize, sei que sempre repito o mesmo discurso, prometo que tentarei mudar, mas não é fácil. 
Eu assumo, é mais forte que eu o meu amor pela Guacamole, chile e o delicioso creme azedo.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Cotidiano

Divisor - Lygia Pape 1968-2010
O que é realmente estar presente?

A cada encontro onde de fato as pessoas estão por completo juntas, esquecendo de seu complemento tecnológico, seu terceiro braço, segundo cérebro, companheiro afetivo, e por aí vai, abrem espaço para uma outra relação. É disso que vamos falar.
Um momento deveras arcaico, onde comungam de reações reais, sentimentos físicos com toda sua carga emotiva - sem emoticons ou afins- para representar o que se sentem, nesse ritual de proximidade tão avesso ao cotidiano virtual que são condicionadas a viver, o estar aqui é o que importa. Com carne, osso, medos, frustrações e muita energia a ser trocada, vivida, cheirada e degustada.

Optar pelo avatar do outro ou invés de encarar de frente quem se é. Quantos "eus" criamos para agradar o outro tentando nos agradar?

Não pretendo levantar uma reflexão sobre o que é ou não real não, mas sim um olhar para si dentro de sua trajetória cotidiana, quantas pessoas você esbarra todos os dias sem ao menos olhar seu rosto, sem um "bom dia", pois seu corpo esta em um lugar e o pensamento em outro.

Gosto muito de encontros, saio sempre transbordando de experiências, de vida e sorrisos bobos, me sinto viva quando abro mão de estar em qualquer outro lugar que não ali, com as pessoas que escolhi.

Desejo um transbordar de experiências boas a todos que se permitirem estar em si.



terça-feira, 8 de maio de 2012

Por muito tempo abandonei esta morada, onde me encontrava na reclusão de palavra muitas vezes taciturnas, onde derramava o meu desalento a procura de um caminho somente meu.
Ainda revejo a possibilidade de tornar hábito a escrita, partilhar em um mundo irreal as desventuras de uma mente atordoada com sigo, inserita em um habitart deslocado, insólido, sujo.
A literatura tente a acalantar corações demasiados sensíveis ao cotidiano atroz o qual somos consumidos desde sempre, a história tente a imortalizar o sofrimento, o lúdico, os espasmos de lucides desloucada afim de resquícios de humanidade.
Costumo me perguntar o que é ser humano, o que é ser cidadão, o que é ser solidário quando se vive para sobreviver.
Gostaria de compartilhar de alguma delicadeza, mas sou consumida por uma profusão de injúrias, de atrocidades...
O pequeno da vida, a felicidade feroz de um cachorro ao ver seu dono depois de um dia de solidão, risadas descontroladas e a infância na maturidade... Por hora é o que me interessa.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Ode ao desconhecido nós


Foto: Cartier bresson

Quero fazer uma celebração!

Hoje venho agradecer em festa pelo teu sorriso, pelo alvo da tua pele, pelas tuas covinhas singelas...
O mundo precisa conhecer teu humor despojado e simples, de má índole que articula pelos bares e casas... teu enorme carisma e sua maneira nada delicada matar o português e ressuscitar Neruda.

Dos cheiros que exalas, prefiro o que resta em mim, para egoista visitar periodicamente, lembrando que me pertence.

Estas viva. És musa e real.
Não fui ludibriada por nenhum aldacioso deus grego - Sim eles adoram criar a perfeição, determinar ideais de beleza e manupular como titeiros nosso reles estado mortal - sã, absorta em meus pensamentos a cerca de ti, embebedada de álcool e poesia recrio tua figura, que brinca com os meus sentidos elevando a crença na não realidade formal.

Meu padrão é o teu ser.

Se teimo em fugir, não é por temer o não mais ausente nós, mas para certificar que minha lucidez não foi posta em xeque, para criar o mais que perfeito oposto complemento, transfigurado na tua figura.

Se crês na tragédia, na bíblia Aristotélica, eu sou ousada e quebro todas as paredes, agradeço a ajuda divina, mas recuso o deus ex machina, não temos salvação.
Somos contemporãneos, fugimos como animais selvagens quando o assunto em voga é "sentir", temos medo de ser apenas humanos. Bomba ambulante de sentimentos que explodem, reagem constantemente, preferimos a comodidade de ser nulo, máquina-humano, frio e calculista. Características da virtual vida comprada e entregue de bandeja, para degustarmos da aparência pela aparância.
Assumir a fragilidade mortal de apenas sentir afeto, permitir encarar a verdade silenciosa restrita aos olhos nos olhos é assustadoramente exitante!

Não transformarei nosso caminho cheio de crises em uma narrativa tipicamente Bergminiana, tão pouco sangraremos dramaticamente à moda Tarantino, quarde suas armas e deixe o ciúme passar.
Dê me sua mão, veremos a saga Almodóvar, somente ele para majestosamente sucintar nossa dramaticidade. Caso canse, podemos visitar nosso amado Woody, assim em meio a boas gargalhadas farás previsões para o futuro rabugento e arrogante para o qual estou fadada.

Espero que tenhamos sabedoria para lidar com as besteiras e seriedades da vida, assumir que o cotidiano pode ser enfadonho e cansativo. Quando chegar a esse ponto, lembrarei das pílulas vermelhas...

Apegada a minha ansiosa vontade de mergulhar na fantasia prometida, ciente de que tecer esse caminho não é fácil, assumo o desafio, teremos muitas esfinges, minotauros e uma feliz metavida.

Que humano normal não desejaria uma vida pacata, filhos, televisão ao final do dia, sexo a cada 15 dias, ver a família florecer e envelhecer graciosamente como dois plenos desconhecidos...

Como amo ser diferente!

Ter consciência de viver em uma sociedade medíocre, regida pelo capital, sustentada e governada por uma elite que se divide entre pseudointelectuais, bárbaros hipócritas e Ladys acéfalas é repugnante. Mas a luta histórica permite a graça de figuras políticas, culturais, artísticas e literárias... estas submersas no mesmo lodo usaram suas habilidades para impedir um suicídio em massa de uma pequena classe ligada ao bom senso, deixando claro que não existe dor que não possa ser curada com um bom trago, um bom livro, bons argumentos, um bom sexo, amor, arrogância e liberdade de ser quem se é, com toda a infindável complexidade que o simples carrega.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Você tem fome de quê?

Imagem: tarsila do Amaral, Operários - 1933


Novas fases surgem, ultrapassando e dilascerando antigas visões e pensamentos.
Assumo a responsabilidade de ser condutora de um (ou vários) olhar(es).
É complexa essa relação proletário- educador-profesor. Sou mais uma trabalhadora do saber, dotada da responsabilidade de ensinar e aprender.
Quantas vidas eu influencio?
Qual o cuidado que tenho e que deveria ter?
Uma profusão de dúvidas e posturas que aprendo a lidar, pisando em ovos com malabares.
Meu ser poético frágil sai do campo do aluno e adentra o universo não menos delicado do professor.
Constantemente sindo como "mais uma" e frustrada enfrento o dia-a dia com uma pérola aluno que faz com que tudo tenha sentido.
Muito medo, mas com recompensas, afagos morais.
Desafio etapa ultrapassada, meu primeiro mês.

sábado, 12 de junho de 2010

xiiiiiiiiiiiiiiiuuuuuuuuu!!!!


Foto: Henri Cartier Bresson

Ei, cala-te!
Não percebe que ela esta concentrada, envolvida consigo, reclusa ao seu mundo particular. Tão bela caminha como o lenço desliza ao vento frio dessa metrópole.
É pequena, está frágil, é fácil perceber isso.
Ei, já pedi silêncio!
Somos expectadores, contemplamos seu espetáculo particular, o cuidado com cada pequeno gesto que rabisca pela vida a fora.
Vem, me ajuda, vou tentar chegar mais perto, quem sabe assim escuto seus devaneios ocultos e abro um buraco para transformar a cena, monólogos podem ser entediantes, ela merece que ousemos uma entrada triunfal.
Não querido, não esta ficando louco, eu também escuto... esse é o som que as lágrimas deveriam produzir se fosse permitido que escorressem para fora, mas ela é egoista demais para isso, prefere que jorrem rios internos de lágrimas e sangue.
Entendo o quão visceral é contemplar esse processo, mas metamorfoses são necessárias e doloridas, essa tem uma beleza peculiar, afinal percebemos a importância do processo, de como começa a ter propriocepção. Essa pequena conquistará o maior prêmio quanto o ato de sair da caverna saia do campo onírico.
Como sei tanto?
Confesso que são apenas apontamentos de uma menina que se esconde no superego dela, que treme e grita a cada nova cicatriz causada pelas escolhas e caminhos que enfrenta.

Bom, agora preciso cuidar da minha pequena, volte quando quiser, mas venha quietinho, deixe que o silêncio o envolva na beleza do que ainda não se inventou significado linguístico.

terça-feira, 13 de abril de 2010

o que é felicidade? momentos...



O que é felicidade?
Os fragmentos de momentos que causam uma euforia tão grande que pode chegar a definição de felicidade são dispersos, aleatórios e normalmente com coisas pequenas.
sorrisos, amigos, amores, filmes, peças de teatro, livros, conversas idiotas com pessoas preciosas, cada momento que vale a pena relembrar compõe a colcha de retalhos do que é felicidade para mim.


Tenho tido espasmos de felicidade e trizteza, ambos intensos.
O prazer de ouvir o som do vento uivas fora de casa e sentir-se acolhida por olhos sinceros.
Ser transportada para outro tempo e espaço, onde não existe nada a não ser o momento inerte e fragmentado. Cada nota da música ao fundo é sentida como o toque suave da brisa, os violinos, a sanfona, a flauta doce depois a transversal, o violão baixinho acompanha e trilha o caminho por onde seguem em fantástica harmonia a trilha sonora da cena.
É como um filme europeu, com um cuidado especial com a arte do olhar, sentir, viver.
As cores são pastéis, intensas, harmônicas e preenchem o espaço, embebedando de vida as figuras enlaçadas.
O furor do riso descontrolado, histérico, proibido que abafa a libertinagem interrompida pela infantil visão do momento.
Num instante tudo desaba, desmorona em risos loucos.
E no acalanto da embriaguês dormem unidos pelas liberdade, separados pela so
lidão do medo.

terça-feira, 9 de março de 2010

Sabe o que quero?

Foto: Henri Cartier Bresson

Quero fechar os olhos e não te ver,
não encontrar impregnado no meu corpo os acordes do teu perfume
o teu toque, calor...
Desenhar passo a passo cada movimento teu
para reviver cada detalhe, registrar o invisível que ainda é meu
o que foi pactuado inconsciente na primeira troca de olhar
quero esquecer das marcas que a vida nos causou
da tentativa de proteger sua fragilidade, escondendo a minha
quero de volta minha precária poesia, meus dias sereletes ao teu lado
ficou tanto não dito
tanto no espaço
no tempo
agora muito mais no esquecimento
o sono é leve ou muito pesado, fica esse vazio ao meu lado
desaprendi a sentir
meu sentidos enxarcados
entopem cada poro com as lágrimas
que meu orgulho impede que vase

Tudo desconexo, solto, perdido
Quero pelo menos por um momento esquecer
não lembrar
abandonar
abrir mão
sumir

Sabe o que quero?
Quero olhar no espelho e não ver um rosto degradado pela tua ausência.

domingo, 7 de março de 2010

Saudade


Foto: Magritte

De quem é esta saudade
que meus silêncios invade,
que de tão longe me vem?

De quem é esta saudade,
de quem?

Aquelas mãos só carícias,
Aqueles olhos de apelo,
aqueles lábios-desejo...

E estes dedos engelhados,
e este olhar de vã procura,
e esta boca sem um beijo...

De quem é esta saudade
que sinto quando me vejo?

Gilka Machado